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O impacto do tabagismo na fertilidade

Foi comemorado recentemente, em 31 de maio, o DIA MUNDIAL SEM TABACO. Criada em 1987 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a data tem o objetivo de alertar sobre as doenças e mortes relacionadas ao tabagismo. Vamos aproveitar o momento e abordar o impacto desse problema mundial na saúde reprodutiva.

 

 

Segundo dados da última pesquisa nacional em saúde realizada pelo IBGE em 2013, 15% dos brasileiros maiores de 18 anos fumam. O percentual foi maior entre homens (19,2%) do que em mulheres (11,2%). Ainda segundo o IBGE, 17.5% dos brasileiros declararam já ter fumado no passado, sendo o percentual também maior em homens (21,2%) do que em mulheres (14,1%). Dados inéditos do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) divulgados dia 31 de maio deste ano revelam que, em 2018, 9,3% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar. As capitais com mais fumantes são Porto Alegre (14,4), São Paulo (12,5) e Curitiba (11,4). Apesar de o número de fumantes vir caindo nos últimos anos, existe uma preocupação com o futuro reprodutivo desses homens e mulheres, que estão expostos às inúmeras toxinas do cigarro.

 

 

Os efeitos deletérios do tabagismo são inúmeros, mas nem todos estão conscientes do impacto negativo na fertilidade. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos entrevistou 388 funcionárias de um hospital e revelou que 99% delas sabia da associação entre cigarro e câncer de pulmão, porém apenas 22% sabia da associação com infertilidade. De fato, o cigarro é o principal causador do câncer de pulmão, que figura como o segundo câncer mais frequente no Brasil. As campanhas de saúde tem foco na prevenção do câncer, mas não podemos esquecer que infertilidade é uma doença prevalente. A OMS estima que de 15 a 20% dos casais não conseguem engravidar após 1 ano de tentativas. Além disso, o impacto emocional nesses casais é grande, com maior prevalência de depressão e transtornos relacionados ao estresse.

 

 

Agora que já sabemos a dimensão do problema, vamos discutir melhor os mecanismos do cigarro na reprodução humana.

 

 

Infertilidade: mulheres tabagistas têm em torno de duas vezes mais chances de serem inférteis em comparação a mulheres que não fumam. Essa demora para engravidar aumenta quanto maior for a quantidade de cigarros consumidos. Nem os tratamentos de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV) e inseminação, parecem superar a redução da fecundidade natural causada pelo cigarro, visto que mulheres tabagistas tem 30% menos chances de engravidar e acabam precisando de quase duas vezes mais tentativas de FIV para engravidar do que mulheres que não fumam.

 

Tabagismo passivo: já existem evidências de alteração na qualidade dos óvulos devido a inalação da fumaça do cigarro mesmo em mulheres não tabagistas, acarretando mais dificuldade para engravidar

 

Redução da reserva ovariana: as toxinas do cigarro aceleram a perda dos óvulos, fazendo com que a menopausa ocorra de 1 a 4 anos antes em mulheres tabagistas.

 

Problemas obstétricos: o tabagismo aumenta o risco de aborto (80% mais risco), bem como gravidez ectópica, descolamento prematuro da placenta, parto prematuro, baixo peso ao nascer, malformação congênita (lábio leporino, fenda palatina), síndrome de Down, morte súbita do lactente, mortalidade materna e neonatal.

 

Alterações no sêmen: estudos mostram redução da quantidade de espermatozoides, redução da motilidade, piora na qualidade do DNA e redução da capacidade de fecundação.

 

 

Disfunção erétil: afeta em torno de 10% dos homens, e o cigarro pode aumentar em até 85% o risco de desenvolver impotência sexual.

 

 

Podemos perceber que o tabagismo afeta de maneira significativa a saúde reprodutiva, em especial das mulheres, sendo considerado um fator de risco importante e que pode ser modificado. Boa parte da redução da fecundidade melhora em até 1 ano quando a mulher para de fumar. Todo momento é válido: mulheres que planejam engravidar, mulheres com dificuldade para engravidar e mulheres grávidas. É dever do médico informar à paciente os riscos do cigarro e os benefícios de parar, além de oferecer apoio emocional e medicamentoso (bupropiona, adesivos de nicotina, entre outros), para aumentar as chances de cessar o tabagismo e levar uma vida mais saudável.

 

 

 

Dra. Carolina Andreoli
Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Humana – CREMERS: 28814
Médica parceira da Clínica ProSer
Avenida Independência, 1211 – Sala 201
Fones: (51) 3311.0075 / (51) 3311.0671
Porto Alegre/RS
www.carolinaandreoli.com.br

@dracarolinaandreoli

 

Bibliografia:
1. Instituto Nacional do Câncer (INCA): https://www.inca.gov.br/campanhas/dia-mundial-sem-tabaco
2. Ministério da saúde – IBGE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91110.pdf
3. Ministério da Saúde: http://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45488-apenas-9-3-dos-brasileiros-ainda-tem-o-habito-de-fumar
4. ASRM – Smoking and infertility: a committee opinion https://www.fertstert.org/article/S0015-0282(18)30492-8/fulltext
5. ASRM Reproductive Facts: https://www.reproductivefacts.org/news-and-publications/patient-fact-sheets-and-booklets/documents/fact-sheets-and-info-booklets/smoking-and-infertility/
6. CDC – Smoking and reproduction https://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/sgr/50th-anniversary/pdfs/fs_smoking_reproduction_508.pdf

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