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Químicos do plástico e o impacto na fertilidade

Químicos do plástico e o impacto na fertilidade

O uso excessivo de plástico vem sendo colocado como um dos maiores desafios para diminuir o impacto ambiental causado ao planeta. Esse material produzido de forma barata é derivado do petróleo e contém uma mistura complexa de agentes químicos. Entretanto, alguns de seus componentes têm efeitos nocivos à saúde das pessoas, sendo correlacionados com aumento da incidência de alguns tipos de câncer e alterações na fertilidade masculina.

 

O ftalato é uma substância adicionada ao plástico para aumentar a durabilidade e resistência em diversas embalagens, brinquedos e cosméticos. Em esmaltes, por exemplo, são responsáveis pelo brilho e pela fixação da cor; enquanto em outros produtos, como em hidratantes, sabonetes líquidos, desodorantes, condicionadores e xampus, os ftalatos dão um aspecto líquido ou de cremosidade. Essa substância também pode estar presente em embalagens alimentícias, copos plásticos, e aquele filme plástico transparente utilizado para embalar alimentos. Como os ftalatos saem facilmente do plástico, eles acabam contaminando os alimentos que estão em contato, assim como o ambiente e até a água que ingerimos, nos colocando em contato direto com uma alta concentração desta substância.

 

Embora o seu uso seja comum no nosso dia-a-dia, já se sabe que esse agente químico é capaz de interferir negativamente na produção hormonal, alterando a produção de androgênios e, por consequência, levando à diminuição da produção de testosterona. A testosterona, bem como outros hormônios, é essencial na fase fetal para que o sistema reprodutivo masculino se desenvolva. Desta forma, a exposição de mães grávidas a níveis elevados de ftalato, principalmente no primeiro trimestre de gestação, tem sido correlacionada a um aumento da incidência de alterações nos órgãos genitais do bebê. Assim, os hábitos da mãe na gestação podem levar a um desbalanço hormonal com impacto decisivo na vida reprodutiva de seus filhos. Muitos estudos têm sugerido que a fertilidade masculina está decaindo com o tempo, fato observado através da análise da qualidade seminal. Os últimos trabalhos, que avaliam a qualidade seminal dos homens no decorrer das últimas décadas, mostram uma redução na contagem espermática de aproximadamente 1% ao ano. A causa deste fenômeno ainda é incerta, porém a exposição a esses fatores ambientais presentes no nosso dia-a-dia pode ser uma das possíveis explicações.

 

O mais preocupante é que a maioria destes compostos não é biodegradável, e o uso indiscriminado hoje terá consequência nas próximas gerações. A Europa já proibiu a utilização de ftalato em cosméticos, enquanto o Brasil limita as suas concentrações e seus derivados (não mais que 1% em peso de ftalato), em copos e garrafas plásticas descartáveis, porém falta regulamentações em diversos setores importantes, como o alimentício. Para evitar as consequências, o ideal seria não armazenar alimentos em embalagens plásticas, ter uma alimentação baseada em alimentos não processados e cosméticos mais naturais. Para evitar a compra de produtos com ftalato, fique atendo nas embalagens, pois raramente há a descrição literal “ftalato”. Os nomes mais comuns listados são phthalates, dibutylphthalate (DBP), dimethylphthalate (DMP), diethylphthalate (DEP) ou em português: butila, benzila, dibutila, diciclohexila, dietila, diisodecila, di-2-etilexila e dioctila. A descrição nos produtos sem ftalatos normalmente aparece da seguinte forma: sem PVC, sem DEHP ou free HDPE (sigla em inglês).

 

Então a dica é: tenha consciência que os hábitos do nosso dia a dia interferem não só no meio ambiente, mas na nossa saúde em diversos aspectos. Uma vida mais saudável e ecológica pode assegurar a capacidade reprodutiva de seus filhos e netos.

 

 

Letícia Arruda
Embriologista da Clínica ProSer e Vida Fértil
Av. Osvaldo Aranha, 1022/Sala 1114
Fone: (51) 99710-0070
Porto Alegre/RS

 

Referências:
1. Swan SH, Main KM, Liu F, et al. Decrease in anogenital distance among male infants with prenatal phthalate. Environ Health Perspect 2005; 113: 1056-1061.
2. Swan SH, Sathyanarayana S, Barrett ES, et al. TIDES Study Team. First trimester phthalate exposure and anogenital distance in newborns. Hum Reprod. 2015;30(4):963-972.
3. Mendiola J, Stahlhut RW, Jørgensen N, et al. Shorter anogenital distance predicts poorer sêmen quality in young men in Rochester, New York. Environ Health Perspect 2011; 119: 958-963
4. https://www.ecycle.com.br/2183-ftalatos-ftalato

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